26 de setembro de 2013

Espirito Olimpico: Fixo de ouro. Por @Karla_torralba


Se não é fácil construir carreira esportiva em modalidades valorizadas aqui no Brasil, imagina nas que é preciso mais que amor. A coluna já discutiu que o apoio familiar e a persistência são fundamentais nestes casos e hoje traz a história vencedora do eleito maior jogador de futsal do mundo na atualidade: Dovenir Domingues Neto, o Neto.

Depois da atuação no Mundial da Tailândia, quando foi Bola de Ouro, o fixo segue carreira na Rússia, onde se completa a carreira de sucesso iniciada no Brasil.

Nascido em Uberlândia-MG, Neto começou a jogar futsal ainda criança, como diversão. E a brincadeira não tinha hora pra acabar. “Comecei muito cedo e só tinha vontade de ficar na quadra jogando. Eu até colocava a minha mãe no gol pra ficar chutando. Fui escolhido pelo futsal”, explicou Neto à coluna.

Mas a partir do momento em que a diversão de cada dia representa um sonho de vida, a coisa fica mais séria.  Não tem mais mãe no gol... A família fica longe. “São muitas dificuldades. Tem que ir pra longe da família com aquela incerteza se vai dar certo ou não, geralmente muito novo”, comentou.

E a oportunidade nas categorias de base de um clube é só o começo, nada está ganho ainda. “Nosso esporte ainda tem um agravante. Nas categorias de base você sai pra ganhar muito pouco e tem que sobreviver com aquilo que ganha, mas isso também faz o atleta que realmente quer vencer. Acredito que hoje as dificuldades são as mesmas, porém o pensamento dos atletas mudou. Eles querem ganhar dinheiro muito rápido, antes não era assim”, opinou Neto.

Além das dificuldades em se firmar no futsal, o esportista acaba seduzido pelo maior esporte do país, o futebol. Um bom jogador de salão pode se iludir achando que a agilidade e precisão serão suficientes para ser um grande jogador de futebol. Afinal, Neymar, Robinho e outros não começaram assim? A televisão sempre mostra vídeos dos craques jogando futsal quando ainda crianças. Isto pode ser pura ilusão.

“Às vezes perdemos um ótimo jogador de futsal, que vai ser um jogador mediano no futebol e isso é ruim. O Brasil é uma fonte inesgotável de talentos e eles precisam ter incentivo pra que não sejam seduzidos pelos altos valores do futebol”, destacou.

E outras dificuldades também são marcantes como o calendário apertado de jogos, por exemplo, sacrifica talentos com lesões e inibe patrocinadores. “O calendário é sacrificante. Jogadores se machucam muito durante a temporada pela quantidade de jogos. É preciso organizar o calendário para que possam oferecer sempre jogos de qualidade pra televisão, sem atletas extremamente desgastados, pois só assim conseguiremos atrair os patrocinadores que o futsal carece. Dependemos da iniciativa privada”, contou.

Iniciativa privada que Neto também faz parte. “Hoje estou tentando contribuir com minha escolinha na cidade de Uberlândia. Procuramos formar o atleta com o básico do futsal que são passes, dribles, marcação etc. E com o tempo mostrar a ele o quanto esse esporte pode se tornar grande no futuro”, explicou.

O final feliz na carreira de Neto veio com o reconhecimento de muito trabalho. Ano passado ele marcou o gol do título brasileiro no Mundial de Futsal realizado na Tailândia. Veio o título e veio a Bola de Ouro.

“O mundial foi especial para todos, especialmente pra mim, pois era o único título que faltava na minha carreira e ainda sair como melhor jogador foi chegar ao topo de um título individual e coletivo. Sensação que não tem explicação e vai ficar marcado na memória durante muito tempo”, ressaltou o fixo.

A carreira continua fora do país. Bem longe de onde começou. Neto joga hoje na Rússia. “Estou no meu sétimo ano fora Brasil. Joguei 6 anos na Espanha. O lado financeiro pesa bastante e ainda tem aquela sensação de desafio que move o jogador, porém não existe lugar melhor de se jogar que o Brasil pela competitividade”, avaliou.

Depois do título coletivo e individual, o apoio da torcida seria natural. Mas a festa e o reconhecimento surpreenderam Neto. “O Brasil carece de times de camisa (Clubes de futebol) no Futsal e isso seria muito importante se tivesse. A conquista do último Mundial mostrou que o Brasil inteiro viu pelo menos a final e o reconhecimento foi gigante, em proporções que nem nós jogadores imaginávamos”, completou.

Além da iniciativa privada, citada por Neto, a entrada no futsal no calendário olímpico valorizaria o esporte com dinheiro e reconhecimento do torcedor.

“Só nos falta isso pra que nosso esporte ganhe o lugar que merece e assim atraia os patrocinadores que nos faltam pra desenvolver cada vez mais. Espero que um dia possa fazer parte, sei que não vou ter a oportunidade de participar assim como tive no Pan de 2007 que foi uma experiência muito bacana de conviver em Vila Olímpica e ser campeão no Rio de Janeiro, mas gostaria de pelo menos estar na TV vendo o futsal nas Olimpíadas”, sonha o jogador.

O futsal ainda não é esporte olímpico, mas sobra Espírito Olímpico aos seus atletas e é isto que a gente valoriza!


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